O Bicho - Manuel Bandeira Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Como vocês podem perceber o título e o poema são auto-explicativos. Parem um pouco para pensar.
Mas aí você, leitor seletivo demais com o que lê, sem pensar, já irá dizer: “Ih... mas um querendo me conscientizar. Gente chata!”
A questão aqui não é essa. Quero que você leia o meu texto e pelo menos tenha a mesma curiosidade que eu tenho em relação a esse assunto. Agora, se você se conscientizará ou não sobre isso, o tempo dirá.
Pois bem, eis o assunto: moradores de rua.
Você, leitor assíduo do nosso blog poderá até perguntar: “Ueh? Como ele falou sobre capitalismo em um dos posts e agora está falando sobre moradores de rua?” Parece contraditório. Mas não é, pois no post que eu falei sobre o capitalismo, argumentei sobre sua eficiência em quanto sistema econômico na sociedade. Não falei de bem - estar social ou algo do tipo. O capitalismo, assim como qualquer outro sistema econômico cria seus “monstros”. Mas isso não é assunto para este post.
O que me deixa mais intrigado sobre este assunto de moradores de rua é que me dá uma vontade de saber as histórias dessas pessoas. Quem nunca se deparou com um lhe pedindo dinheiro? Ou simplesmente na sua frente, catando lixo, dormindo, andando...
É só chegar perto de sua casa, na esquina mais próxima que certamente você irá se deparar com um: ”Ai tio me dá uma ajuda aí!”; “Moço, moço tem um trocadinho...?”
Às vezes não falam nada. Simplesmente observam.
O assunto encontra-se mais perto da gente do que pensamos.
Ficou mais próximo de mim ainda quando, certa vez, alguém virou pra mim e disse: “Ta vendo aquele homem ali?”. O homem catava alguns papelões pela rua. Eu disse: “O que tem?”. “Dizem que ele era muito rico e perdeu tudo.” E essa não foi a única vez que escutei isso.
Hoje, fico muito intrigado. Acho que todo mundo tem uma história, um brilho, algo a acrescentar. Toda vez que ando pelas ruas e me deparo com uma cena em que o protagonista não deveria ser um ser – humano, fico pensando: Qual deve ser a história dessa pessoa? Será que estou mais perto do que eu pensava de um milionário? Será que era rico? Tinha pai? Mãe? Tem irmãos? Estudou? Viu jogos do seu time? Brincou? Tem sonhos?
Pelo menos almoçou hoje........??? Almoçará amanhã....??
Parece história de mãe quando quer dar aquela velha lição de moral: “Tem gente que nem tem o que comer.” Isso é hoje para mim uma história, no mínimo, intrigante.
Percebo com muito mais maturidade que tem gente que realmente não tem o que comer, muito menos, se alimentar... de sonhos, esperanças... Apenas sobrevivem no dia-a-dia (enquanto podem).
As palavras de Manuel Bandeira nunca fizeram tanto sentido...